2.6.10

Olho por olho a olho nu - Haroldo de Campos


olho por olho a olho nu


Haroldo de Campos




uma arte ­ não q apresente ­ mas q presentifique

                                       o OBJETO

uma arte inobjetiva?         não


                                       :OBJETAL

qdo o OBJETO mentado não é o OBJETO expresso, a expressão tem

uma cárie

                                       LOGO:

falidos os meios tradicionais de ataque ao OBJETO

(língua de uso cotidiano ou de convenção literária)


um(a) novo(a) meio (língua)                          de ataque direto à

                                           medula desse

                                                 OBJETO

POESIA CONCRETA:                           atualização

"verbivocovisual"

                                                   do


                                                   OBJETO virtual







DADOS:



a palavra tem uma dimensão GRÁFICO-ESPACIAL

uma dimensão ACÚSTICO-ORAL


uma dimensão CONTEUDÍSTICA

agindo sobre os comandos da palavra nessas

3




dimensões                  3




a



POESIA CONCRETA assedia



o OBJETO mentado em suas plu-

rifacetas: previstas ou imprevistas:

veladas ou reveladas: num jogo de

espelhos ad infinitum em q essas 3 di-


mensões 3 se mútuo-estimulam num

circuito reversível libertas dos amor-

tecedores do idioma de comunica-

ção habitual ou de convênio livresco


uma

NOVA ARTE de expressão


exige uma ótica, uma acústica, uma

sintaxe, morfologia e léxico (revisados

a partir do próprio fonema)

NOVOS


PAIDEUMA

elenco de autores culturmorfologicamente atuantes no momento histórico = evolução qualitativa da expressão poética e suas táticas:


POUND ­ método ideogrâmico

               léxico de essências e medulas (definição precisa)

JOYCE ­ método de palimpsesto

              atomização da linguagem (palavra-metáfora)


CUMMINGS ­ método de pulverização fonética

              (sintaxe espacial axiada no fonema)

MALLARMÉ ­ método prismográfico (sintaxe espacial axiada nas

              "subdivisões prismáticas da idéia")


e pq NÃO os FUTURISTAS? ­ "processo de luz total" contra

               os DADAÍSTAS? ­ o blackout da história: ­

                                         v a l i d a ç ã o


         do contingente positivo desses "ismos" em função da          expressão poética OBJETAL ou CONCRETA neotipografia,

         "paroliberismo", imaginação sem fio,



         simultaneísmo, sonorismo etc. etc.



                                          etc. etc.




                                          e

                                          m

         FUNÇÃO de uma                   NÃO

         apenas psicologia

                 MAS

         fenomenologia




         da                  composição

POESIA CONCRETA =

poesia posicionada no mirante culturmorfológico ao lado da



                                  PINTURA CONCRETA

                                  MÚSICA CONCRETA


guardando as diferenças relativas mas ­ não se trata da miragem

da obra de arte total ­ compreendendo as necessidades comuns à

expressão artística

                                                           CONTEMPORÂNEA


PROGRAMA:

o POEMA CONCRETO aspira a ser: composição de elementos básicos da linguagem, organizados ótico-acusticamente no espaço gráfico por fatores de proximidade e semelhança, como uma espécie de ideograma para uma dada emoção, visando à apresentação direta ­ presentificação ­ do objeto.




a POESIA CONCRETA é a linguagem adequada à mente criativa contemporânea



permite a comunicação em seu grau + rápido

prefigura para o poema uma reintegração à vida cotidiana semelhante à q o BAUHAUS propiciou às artes visuais: quer como veículo de propaganda comercial (jornais, cartazes, TV, cinema etc.), quer como objeto de pura fruição (funcionando na arquitetura, p. ex.), com campo de possibilidadesanálogo ao do objeto plástico substitui o mágico, o místico e o maudit pelo ÚTIL




TENSÃO para um novo mundo de formas

                                                 VETOR

                                                           para

                                                                     o

                                                                     FUTURO







Publicado originalmente na revista AD ­ Arquitetura e Decoração, número 20, São Paulo, novembro/dezembro de 1956; republicado no "Suplemento Dominical" do Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 28 de abril de 1957.