27.7.10

A Jesus Cristo crucificado estando o poeta para morrer - Gregório de Matos



Meu Deus, que estais pendente de um madeiro,
em cuja lei protesto de viver,
em cuja santa lei hei de morrer
animoso, constante, firme e inteiro:

neste lance, por ser o derradeiro,
pois vejo a minha vida anoitecer,
é, meu jesus, a hora de se ver
a brandura de um pai, manso cordeiro.

Mui grande é o vosso amor e o meu delito,
porém pode ter fim todo o pecar,
e não o vosso amor que é infinito.

Esta razão me obriga a confiar,
que, por mais que pequei, neste conflito
espero em vosso amor me salvar.

Gregório de Matos. In Poesia barroca

Por sua visão satírica da sociedade do século XVII, Gregório de Matos e Guerra, recebeu o apelido de "Boca do Inferno". Subversivo, romantico e sacro, o poeta revela sua clara influência dos poetas barrocos espanhóis que contribui com o calor dramático das maracas em sua rima.
O que é conhecido em sua obra é fruto de pesquisa em coletanêas editadas ao longo dos séculos. Esse fato põe em xeque a autenticidade de inúmeros textos que lhe é atribuído.

Nasceu na Bahia, em 1633, e morreu em Recife, em 1696.