13.10.09

Nota

(...)Assim foi que da Igreja originou-se uma nova polis, do vinculo paradoxal entre a alma perdida em pecados inexpiaveis e a redenção absurda mas certa originou-se um reflexo quase platónico dos céus na realidade terrena, do salto originou-se a escala das hierarquias terrestre e celestial. E em Giotto e Dante, em Wolfram de Eschenbach e Pisano, o mundo voltou a ser uma circunferência perfeita, abarcavel com a vista, uma totalidade: o abismo perdeu o perigo das profundezas efetivas, mas todas as suas trevas, sem nada perder da luz sombria, tornaram-se pura superfície e assim se inseriram a vontade numa unidade integrada de cores; o apelo a redenção tornou-se dissonância no perfeito sistema rítmico do mundo e possibilitou um equilíbrio novo, embora não menos perfeito e colorido que o grego: o das intensidades inadequadas e heterogéneas. O caracter incompreensível e eternamente inacessível do mundo redimido foi assim trazido para perto, ao alcance da vista. O Juízo Final tornou-se presente e um simples elemento da harmonia das esferas tida como já consumada; sua verdadeira essência, que transforma o mundo numa ferida de Filoctetes cuja cura esta reservada ao Paracleto, teve de ser esquecida. Surgiu um novo e paradoxal helenismo: a estética volta a ser metafísica(...)

Georg Lukacs - A Teoria do Romance
Pag 31
[Editora 34]